quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A El-Rei.

"A El – Rei
Senhor, umas casas existem, no Vosso Reino, onde homens vivem em comum, comendo do mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã a um toque de corneta se levantam, para obedecer. De noite, a outro toque de corneta se deitam, obedecendo. Da vontade fizeram renúncia como da vida. Seu nome é sacrifício. Por ofício desprezam a morte e o sofrimento físico. Seus pecados mesmo são generosos, facilmente esplêndidos. A beleza das suas acções é tão grande que os poetas não se cansam de a celebrar.
Quando eles passam na rua juntos, fazendo barulho, os corações mais cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente conhece-os por MILITARES: Eu cá chamo-lhes padres. Padres de religião Augusta, a única possível nos dias de hoje; a do civismo. Por essa divina humildade que os faz semelhantes a coisas, eles se levantam acima dos outros homens.
Corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que comem: como se os cobres do pré pudessem pagar a LIBERDADE e a VIDA. Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão.
Eles, porém, calados, continuam guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma. Pelo preço da sua sujeição, eles compram a liberdade para todos e a defendem da invasão estrangeira e do jugo das paixões.
Se as forças das coisas os impede agora de fazerem em rigor tudo isto, algum dia o fizeram, algum dia o farão. E, desde hoje, é como se o fizessem.
Porque, por definição o Homem de guerra é nobre. E quando ele se põe em marcha à sua esquerda vai a coragem, e à sua direita a disciplina."


- Moniz Barreto, 1893.