terça-feira, 4 de junho de 2013

Poema de Lucien Boyer

A Infantaria
Lembro-me como se fosse hoje, destas palavras que ouvi(mos), feito Infante "endurecido" numa manhã ainda crua, sob o eco discreto da Sala de Honra de Infantaria, na sua Casa Mãe.
Mal me tinha em pé, mas interiorizei cada palavra...
Muita vez o procurei, hoje encontrei-o, este Poema!


"Tinha acabado a guerra; e Deus, lá nas alturas,
Cercado de astros de oiro e pulcros querubins
Ouviu sons marciais, fanfarras e clarins,
E um ardente vozear de humanas criaturas.

´Que rumor – perguntou, perturba assim o ar?´
"Senhor, lhe responde alguém da corte celestial,
-Os bravos vencedores da Guerra Mundial,
Sob o Arco do Triunfo estão a desfilar."
Na célica mansão um sussurro se expande;
E a densa legião de almas plenas de graça
Acorre curiosa e se debruça e esvoaça
P'ra melhor distinguir a marcha heróica, grande!

Então o bom S. Pedro, o santo venerando,
Que por mando divino é dos céus o porteiro,
Gritou: "Chamai Flambeau, o esperto granadeiro,
Para explicar o que se for passando."

Flambeau, que combateu e foi dos mais ousados,
Acerca-se atencioso, observa por momentos, e informa:

"Vão ali famosos regimentos,
A glória militar, indómitos soldados!"
Cavaleiros, então, avançam com ardor
E ele anunciou: "Desfilam os dragões!..."
Estremecem no céu os áureos portões
Que a voz do povo era um estrídulo clamor.

- "Mas isto nada é...", disse Flambeau atento.
"Olhai a Artilharia!..." Em enorme alarido,
Reboam saudações qual ciclone enfurecido,
Ascendendo em rajada até ao firmamento.

E Flambeau continua: "Isto ainda não é nada!
Vereis melhor Senhor... Eis os aviadores!..."
Regougam pelo espaço os potentes motores,
A ponto tal que a voz do povo é sufocada.

Flambeau proclama com enlevo! "Os Marinheiros..."
Desta vez o entusiasmo os mundos excedeu;
E cativado, o sol, palmas de oiro abateu
Sobre os rijos heróis, que foram dos primeiros.

" Agora, Senhor meu - disse Flambeau ovante –
Vereis quando passar a nobre Infantaria...
Tenho medo que o sol estoire e finde o dia
E a noite eterna envolva a Terra num instante.
Serão aclamações estrondosas, torrenciais,
Vibrarão no azul qual doida trovoada
Verse-á a multidão frenética, entusiasmada,
Delírio igual jamais se viu, jamais."

Surgiram a seguir os homens das trincheiras,
Alpinos, caçadores e toda a infantaria.
Nas suas expressões claramente se lia
O martírio sofrido e angústias e canseiras.
Quando o canhão, rugindo, a morte semeava,
Impávidos, no posto, assim permaneciam...

Era uma coorte altiva, os tantos que ali iam
Um grande, imenso, mar de heróis que ali passava.
Às quentes saudações que a multidão soltou
Silêncio se seguiu, silêncio e nada mais.

O espanto avassalou as regiões siderais.
E Flambeau, indignado, agreste se expressou:
-"Assim os recebeis, ó crua, ingrata gente?!
Por vós riram da morte e a fome desdenharam,
Cansados de sofrer jamais o confessaram,
São de aço os quais ali vão, tropa digna, valente!
Deveis-lhe orgulho, sim, a graça de viver
E, em vez de os abraçar, calais-vos? Mal andais.

Franceses, ouvi bem: Sois rudes, sois brutais.
Tamanha ingratidão não tem razão de ser."

Mas mal termina a frase, olhando a Terra,
fica possuído de orgulho, o coração em festa...
Os Infantes, semideuses, heróis em gesta,
Que a luz do sol poente envolve e magnifica,
Marcham erectos, viris, o olhar altivo e ousado...
Fremente, perturbada, a imensa multidão,
Por um alto mandato ou estranha inspiração,
Havia ajoelhado."

LUCIAN BOYER
Adaptação livre do Cap. J.M. Galhardo

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